20/05/2007

Floresta da Madeira - Zambujal - Laurissilva - Urzal de Altitude

Introdução e Generalidades

Maciço Montanhoso Central da Ilha da Madeira
(Massaroco - Echium candicans L. fil.. - foto do autor )


As ilhas guardam sempre um conjunto de características únicas que as torna diferentes em qualquer lugar do mundo. Sujeitas ao isolamento de milhões de anos e protegidas pelo mar que as envolve, guardam sempre um conjunto de características únicas e peculiares. Charles Darwin, na sua obra a “A Origem das Espécies”, refere 30 vezes a Madeira e 23 vezes as Galápagos, o que demonstra a importância biogenética das espécies da Madeira, nesta importante obra para a compreensão da ciência moderna, resultado de profunda e demorada pesquisa científica. Ao consultar a “Origin of Sepecies” (importar este pdf), logo verificamos a veracidade deste conteúdo!



Floresta exótica
(Floresta introduzida - foto do autor)


O Arquipélago da Madeira, localizado no Oceano Atlântico, oficialmente descoberto ou reconhecido no século XVI (1419/1420), foi povoado com maior incidência junto ao litoral, em achadas e fajãs, lombos e lombadas, em todos os “pontos cardeais”. Já no final deste mesmo século, e após o arroteamento das terras para a agricultura, a vertente sul da ilha apresentava grandes manchas desarborizadas, de tal forma que, disposições régias ordenavam a plantação de castanheiros, nogueiras e pinheiros, oriundos do continente português, proibindo em simultâneo o corte de árvores sem licença das Câmaras. Igualmente, o abate de árvores em lugares onde houvesse fontes ou nascentes e águas correntes (ribeiras e ribeiros) eram condicionados.



Floresta indígena
(Laurissilva - foto do autor)
-
A introdução da cana sacarina e o processo da sua transmutação em açúcar, por um grande número de engenhos a trabalhar, distribuídos pelo sul e nordeste da ilha, fez da floresta primitiva combustível. A presença de gado caprino, ovino e suíno, a pastar livremente pelas serras e o fabrico de carvão vegetal, para utilização doméstica e industrial, complementaram processo da redução da floresta indígena. O que chegou até aos nossos dias, a orografia complexa da Madeira protegeu! Contudo, ao longo de cinco séculos de ocupação humana, a floresta originária praticamente desapareceu da vertente sul e leste da Ilha onde a orografia facilitou o desbravar do solo madeirense. Mas, na vertente norte, de relevo de acesso difícil, clima frio e húmido, devido à exposição dos ventos predominantes de nordeste (os alíseos), a floresta primitiva foi reservada até aos nossos dias.



(Ventos alíseos)
(Vale da Serra de Água - foto do autor)

A actual floresta indígena da Madeira, «na sua maioria, representada por árvores da família das lauráceas, no dragoeiro e nos fetos», existiu outrora no sul da Europa e bacia do Mediterrâneo, onde foram encontrados fósseis de espécies da floresta madeirense, tendo-se aí extinguido naturalmente. Interroga-se então, o porquê da extinção desta floresta nesse continente, e como terá podido sobreviver nestes arquipélagos atlânticos? E como vieram cá parar? Relativamente à primeira resposta, sabemos que, no final do Terciário verificou-se uma descomunal modificação no clima europeu, caracterizado por um gradual arrefecimento. Este abaixamento da temperatura surgiu na sequência da expansão em direcção ao sul da calote de gelo polar. Quase em simultâneo, começou a processar-se uma alteração climática na zona do norte de África, tornando-se aí o clima mais seco. Desta forma, a floresta subtropical do sul da Europa deixou de encontrar as condições climáticas ideais ao seu desenvolvimento sustentado, devido ao frio crescente vindo de norte e à aridez proveniente do sul, dando-se assim, início ao seu processo de recuo e consequente extinção. Quanto à segunda resposta, que é mais problemática (!?), julga-se que, os arquipélagos atlânticos protegidos que estavam destas mudanças climáticas, devido à sua localização oceânica, serviram de “poiso” a determinadas aves que aqui “semearam” sementes originárias dessa mesma floresta do sul da Europa, também de África, e talvez de outros continentes. De referir que, as aves que habitam a floresta da Madeira (Laurissilva), como por exemplo o pombo trocaz, são na sua maioria “comedores de sementes”.



Trocaz
 (Columba trocaz - foto by web)

Uma das características principais da floresta indígena madeirense, nas suas espécies, que na sua maioria são de expressão sexual dióica, (necessitando de uma planta de sexo masculino para se reproduzirem), são produtoras de sementes, e por sua vez, esta interdependência “aves-versus-floresta”, também ajudou à consolidação da mesma. Por essa razão, o pombo trocaz é actualmente protegido, pois o mesmo se tornou, o grande “semeador” da floresta autóctone insular, designadamente a Laurissilva. Quanto às outras espécies de plantas, se chegam por cá poeiras do Deserto do Saara, arrastados pelos ventos de leste, também chegam outras sementes! Assim, a “floresta terciária” sobreviveu, persistindo até hoje! Esta, é considerada por muitos especialistas como uma floresta “fóssil vivo”, que acompanhou a história geológica das ihas do Arquipélago da Madeira, ao longo de milhões de anos. A testemunhá-lo, foi o “achado” de fósseis de toros, “que se julga ser de barbusano”, entre camadas de tufo vulcânico e de alcatrão, por ocasião da perfuração do túnel para passagem da Levada do Norte na Encumeada de São Vicente, em 1947. Alguns destes exemplares, encontram-se actualmente no Museu Municipal do Funchal e no Museu da Electricidade "Casa da Luz".



Til
Ocotea foetens (Ait) Benth et Hook fil.
 (foto do autor)


A floresta da Madeira, particularmente a Laurissilva, é actualmente a mais extensa e a mais bem conservada dos arquipélagos atlânticos (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), que constituem a Macaronésia, (regiões com características fitográficas e biológicas comuns), e por conseguinte pode-se afirmar que, a Madeira possui a melhor e mais extensa mancha de floresta Laurissilva do Mundo. A totalidade da área desta floresta, e dada a sua importância, foi recentemente classificada como Reserva Biogenética e incluída na rede europeia de Reservas Biogenéticas, sob a égide do Conselho da Europa. As Reservas Biogenéticas constituem áreas protegidas europeias onde ocorrem ecossistemas, biótipos e espécies únicos, raros ou ameaçados e característicos de uma dada região.



Biótopos da Ilha da Madeira
(Rede Natura 2000 - Fonte: Plano Rgional da Água da RAM, SRA)



A floresta Laurissilva, é uma floresta “produtora” de água (pdf), que no caso da ilha da Madeira, e face à sua localização geográfica, com a cordilheira central perpendicular (oeste - leste) aos ventos predominantes de nordeste (os alíseos), carregados de vapor de água do oceano, impulsionados por correntes de ar ascendentes, chocam com as montanhas, e ao passar pela floresta, provocam a chamada precipitação oculta, e se for nos planaltos ou nos píncaros “assume” a designação de “horizontal”, onde predomina o Urzal de Altitude. Nas Canárias, particularmente nas ilhas Gomera e Hierro, reconheciam-se bem a importância que as populações indígenas (os guanches), davam à sua floresta, porque dela dependia a sua própria sobrevivência. A passagem dos nevoeiros pela floresta, o til (?), “el Garoé” ou "el Árbol Santo", funcionava como "reservatório natural" e era adorada como se fosse um deus, conforme representações de historiadores castelhanos no século XVI. Na Madeira, existe mais água na vertente norte do que na vertente sul. Por esta razão se construíram canais de transporte de água, as levadas, que na sua maioria também "nascem" a norte, captando as nascentes aí existentes.


Ribeira Grande - Ribeira do Lajeado
(Madre de Água - Levada do Alecrim - foto do autor)


Actualmente a floresta na Madeira (indígena e exótica), reveste quase 43% da superfície da ilha e ocupa uma área estimada em 34.224 hectares (dados publicados pela DRF, em 30-06-2009). As espécies introduzidas denominadas de floresta exótica, surgiram na Madeira para fazer face às necessidades de reflorestação de áreas desarborizadas, para obtenção de material lenhoso e de construção. Esta, encontra-se praticamente localizada na encosta sul. Dois terços da área da Madeira são Parque Natural, com uma área de cerca de 56.700 hectares.


Parque Natural da Madeira
(Fonte: Plano Regional da Água da RAM, SRA)




A Floresta da Madeira

Vertente norte da Madeira
(Ao centro o vale de São Vicente - foto do autor)


A localização geográfica e as condições edafoclimáticas da Ilha da Madeira, permitem a existência de inúmeros ecossistemas, aos quais perfazem vários habitats, onde as diversas espécies da flora desenvolvem os seus ciclos de vida, existindo assim uma floresta pluriestratificada e rica em biodiversidade. A floresta da Madeira compreende vários andares de vegetação, em diferentes altitudes, a norte e a sul, (como se indica no quadro abaixo colocado), com diversos microclimas, composta por uma vegetação xerófila junto ao litoral, designada por Zambujal, por uma floresta de transição, em que se misturam espécies de Laurissilva com as do litoral (Laurissilva do Barbusano), seguindo-se as outras "laurissilvas", que constitui outras florestas, conforme a espécie mais abundante, que são designadas por Laurissilva do Vinhático e Laurissilva do Til. A "Vegetação de Altitude" foi recentemente classificada de "Urzal de Altitude", por ser a urze a espécie dominante. Resumindo, a floresta da Madeira, compreende cinco florestas indígenas: o Zambujal, a Laurissilva do Barbusano, a Laurissilva do Til, a Laurissilva do Vinhático e o Urzal de Altitude ou Vegetação de Altitude.


(Andares de vegetação - Madeira)




Zambujal - Vegetação Xerófila do Litoral

Zambujal
(Ribeira Brava - foto do autor)

Na Madeira, encontram-se espécies vegetais que habitam a extensa costa e vales junto ao litoral, que correspondem ao andar basal da flora insular. Trata-se de uma vegetação de porte predominantemente rasteiro, onde os arbustos raramente atingem mais de um metro (excepto a oliveira brava ou zambujeiro e o dragoeiro), distribuindo-se desde o nível do mar, até aos 300 metros nas encostas do sul e apenas até aos 100 metros, na vertente norte. Ocorre em habitats secos, com uma humidade atmosférica relativa que ronda os 60 a 70%, e uma precipitação que só ocasionalmente excede os 750 mm/ano.


Goivo da rocha ou cravo de burro
(Matthiola maderensis Lowe - foto do autor)

A temperatura média mensal situa-se entre os 15 e os 23° C. Dominada pela oliveira brava ou zambujeiro (Olea europaea L. ssp. maderensis), espécie dominante que baptizou este tipo de floresta, e outras espécies como o dragoeiro (Dracaena draco), o funcho marinho (Crithmum maritimum), a figueira do inferno (Euphorbia piscatoria), a malfurada (Globularia salicina), o goivo da rocha ou cravo de burro (Matthiola maderensis), a musschia dourada (Musschia aurea), a perpétua de São Lourenço (Helichrysum devium), o buxo da rocha (Chamaemeles coriacea), a andríala (Andryala crithmifolia), o jasmineiro branco (Jasminum azoricum), o ensaião ou farrobo (Aeonium glutinosum), a losna (Artemisia argentea), o massaroco (Echium nervosum) e os pampilhos (Argyranthenum pinnatifidum), são alguns exemplos desta vegetação. É na Ponta de São Lourenço que subsiste a melhor mancha de vegetação natural do andar basal da ilha, caracterizada por vários endemismos e pela ausência de vegetação introduzida.

Oliveira brava ou zambujeiro
(Olea europea ssp. maderensis - foto do autor)




A Laurissilva


Laurissilva
(Foto do autor)

A Laurissilva (larus + silva) significa a floresta (silva) dos loureiros (laurus), onde predominam árvores da família das Lauráceas. Esta floresta tem uma formação com características higrófilas (vegetação adaptada a grande humidade) bem desenvolvidas, que estão presentes em todos os estratos característicos deste tipo de ecossistema. Tem uma distribuição que vai dos 300 aos 1300 metros de altitude. Ocupa áreas de humidade relativa mais elevada da Ilha (quase sempre acima dos 85%), o mesmo se pode dizer quanto à precipitação (mínimo de 1700 mm/ano) e com frequência de nevoeiros. Tem uma grande diversidade florística, e é sobretudo ao nível do estrato herbáceo-inferior que vamos encontrar a maior parte dos endemismos em ecossistemas únicos no Mundo.


Gerânio
(Geranium palmatum - foto do autor)


Entre os 300 e os 600 metros, aproximadamente, prosperam o barbusano (Apollonias barbujana), a faia-das-ilhas (Myrica faya), o azevinho (Ilex canariensis), o marmulano (Sideroxylon marmulano), a urze-das-vassouras (Erica platycodon ssp. maderincola) e o seixo ou seiço (Salix canariensis). Esta formação vegetal existe no norte da ilha, e em alguns núcleos nas vertentes e escarpas voltadas a sul. O barbusano é árvore de maior porte e pertence à família das Lauráceas, podemos chamar a esta floresta de transição a Laurissilva do Barbusano.


Cedro-da-madeira
(Juniperus cedrus - Foto do autor)

Dos 600 até aos 1300 metros, onde se verificam os mais altos valores de humidade relativa, existem núcleos de Laurissilva, com exemplares de vinhático (Persea indica), de til (Ocotea foetens) e de loureiro (Laurus novocanariensis). Constituem as “laurissilvas” classificadas pela espécie dominante, do vinhático e do til, respectivamente. Existem outras árvores de menor porte e de outras famílias, como o folhado (Clethra arborea), o pau-branco (Picconia excelsa), o sanguinho (Rhamnus glandulosa), o perado (Ilex perado), o sabugueiro (Sambucus lanceolata), a ginjeira-brava (Frangula azorica), o(s) mocano(s) (Visnea mocanera e Pittosporum coriaceum) e o cedro-da-madeira (Juniperus cedrus).


Alegra-campo
(Semele androgyna - foto do autor)


Entrelaçado nos troncos prolifera o alegra-campo(s) (Semele androgyna). No solo num ambiente de sombra e muita humidade prosperam várias espécies de fetos, que formam coberturas de rara beleza. Nos terraços ou socalcos (poios), a hera (Hedera maderensis ssp. maderensis) prende-se aos basaltos e às escórias vulcânicas. Nas clareiras, florescem arbustos e pequenas plantas. Entre estes, sobressaem o massaroco (Echium candicans), o isoplexis (Isoplexis sceptrum), a múchia ou tangerão bravo (Musschia wollastonii), o piorno (Teline maderensis), a leituga ou serralha-da-rocha (Sonchus fruticosus) e a estreleira (Argyranthemum pinnatifidum). Ainda poderemos encontrar herbáceas de flores muito atraentes, tais como, a orquídea-da-serra (Dactylorhiza foliosa), a orquídea branca (Goodyera macrophylla), o(s) gerânio(s) (Geranium maderense, o Geranium palmatum e o Geranium rubescens) e a doiradinha ou ranúnculo (Ranunculus grandiofolius), entre outras. Em zonas húmidas, a nordeste da Madeira, encontramos a rara quebra-panela (Bystropogon maderensis).


Orquídea-da-serra
(Dactylorhiza foliosa - foto do autor )




Vegetação de Altitude ou Urzal de Altitude


Urzal de Altitude - Erica arborea
(Homem-em-pé, Achada do Teixeira - Santana - foto do autor)

As zonas mais altas da Madeira caracterizam-se por um clima rigoroso, com grandes amplitudes térmicas e ventos intensos. A precipitação atinge valores elevados (mais de 2000 mm/ano), e a neve e o granizo chegam a cobrir extensas áreas nos meses mais frios. Nas pequenas achadas e nas fissuras das rochas com algum substrato, desenvolve-se uma vegetação adaptada às condições do meio e que alberga um grande número de endemismos.

Goivos
(Vereda do Pico do Areeiro - Pico Ruivo - foto do autor)

Embora sujeita a uma humidade relativa normalmente inferior à que existe ao nível da floresta a vegetação que ocorre nesta zona, desempenha um importante papel na retenção da água trazida pelos nevoeiros (precipitação horizontal) e sua posterior infiltração no solo. Nos picos mais altos e nas pequenas plataformas talhadas nas suas vertentes (achadas), a vida é menos exuberante. Esta formação vegetal tem uma fisionomia semelhante ao dos “maquis mediterrânicos”.


Paul da Serra, visto do Pico do Areeiro
(Maciço Montanhoso Central da Ilha da Madeira - foto do autor)

A única laurácea, que vive nestes solos pedregosos e sujeitos a grandes amplitudes térmicas e ao vento, é o loureiro, embora de porte arbustivo e com as folhas pequenas. Aqui, predominam a urze-molar (Erica arborea), espécie dominante, a urze-das-vassouras (Erica platycodon ssp. maderincola), a uveira-da-serra (Vaccinium padifolium), a sorveira (Sorbus maderensis), o perado (Ilex perado), a ameixieira-de-espinho (Berberis maderensis), a roseira-brava (Rosa mandonii) e a pequena urze-da-madeira (Erica maderensis). Nos pequenos terraços naturais abrigados dos ventos florescem, o alecrim-da-serra (Thymus caespititius), a arméria (Armeria maderensis), a violeta-da-madeira (Viola paradoxa), a erva-arroz (Sedum farinosum), a erva de coelho (Pericallis aurita), a doiradinha, a giesta (Genista tenera), o piorno (Teline maderensis), a selvageira ou erva-branca (Sediritis candicans) , o massaroco (Echium candicans), o goivo-da-serra (Erysimum bicolor), a antilídia-da-madeira (Anthyllis lemanniana) e a orquídea-das-rochas (Orchis scopulorum), entre outras.


Doiradinha e goivo da serra
(Ranunculus cortusifolius var. major e Erysimum bicolor - foto do autor)


Sobre os ramos dos arbustos ou nas fissuras das rochas prosperam variadas espécies de musgos e líquenes. Entre estes o mais vistoso é um de cor laranja que dá pelo nome de letharie. Esta vegetação de altitude (Urzal de Altitude), dos píncaros da ilha está incluída no Parque Natural da Madeira, como Reserva Geológica e de Vegetação de Altitude.


Letharie
(Lethariella canariensis - foto do autor)



Notas Soltas:


Vegetação de Altitude ou Urzal de Altitude
(Ursal em recuperação natural após um incêndio - foto do autor)


- O fogo principal inimigo da floresta! Na Madeira existem poucos relatos de fogos de causas naturais, como por exemplo, a queda de raios provocados por relâmpagos. A maior parte dos incêndios na Madeira tem origem humana. O Decreto Legislativo Regional n.º 18/98/M, de 18 de Agosto, estabelece medidas de prevenção contra incêndios florestais. Pegar fogo por “vingança” com a consciência de criminoso, aliado a “adrenalina estúpida”, ao desleixo e à ignorância, são atitudes que ainda hoje, infelizmente, persistem em alguns habitantes desta terra. Não respeitam a grandiosa e gloriosa obra, única em todo o mundo que foi tornar esta “ilha selvagem” num espaço de “qualidade de vida”! São exemplo disso, os socalcos (poios) e as levadas, que também deviam ser património mundial como a Laurissilva. As queimadas efectuadas junto à floresta ou fora desta, são as causadoras dos grandes incêndios registados na Madeira. Cabe as gerações actuais da defesa intransigente e permanente da Laurissilva, a floresta que “produz a água” vital para a nossa própria sobrevivência. No momento em que escrevo estas linhas um grande incêndio devora as encostas da Eira do Serrado proveniente da Ribeira dos Socorridos (Maio de 2007);



Levada
(Chão da Ribeira - Seixal - foto do autor)

- A Madeira não é rica em combustíveis fósseis, mas é rica pela floresta e pela água que esta consegue “reter”. Quando da água se extrair o hidrogénio “combustível”, a mesma terá potencialidades nunca antes vistas. Porque é que foi, que no século XV, o Rei de Portugal e dos Algarves “cedeu politicamente” algumas ilhas do arquipélago de Canárias aos castelhanos e não a Madeira!? Três respostas possíveis: A primeira, é que estas eram habitadas pelos seus habitantes valentes (os guanches) que ofereciam alguma resistência à ocupação; a segunda, embora com um grande espaço geográfico, o clima não favorece em várias ilhas canarianas a existência de água em permanência; e, a terceira, a Madeira tinha tudo, desde madeira para servir de combustível e proceder a manutenção das caravelas e uma grande abundância de água todo o ano. Ainda havia dúvidas na escolha estratégica!? Na Madeira quem dominar a floresta, domina o abastecimento de água às populações, e quem dominar a água, domina a Ilha;



Laurissilva
(Próximo da Fajã da Areia - São Vicente - foto do autor)

- A importância científica da Laurissilva ultrapassa os limites geográficos da Região Autónoma da Madeira e de Portugal. A prová-lo estão os galardões que lhe foram atribuídos: Reserva Biogenética do Conselho da Europa e Zona Especial de Protecção e Sitio de Interesse Comunitário no âmbito no âmbito da Rede Natura 2000. Ela é Património Natural da Humanidade (UNESCO)!



Laurissilva
(Junto à floresta exótica - Chão da Ribeira - foto do autor)



Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006, publicada no Diário da República, 1.ª série - N.º 179 - 15 de Setembro de 2006, foi aprovada a “Estratégia Nacional para as Florestas”, inserida na “Estratégia Florestal da União Europeia”.
Para além da estratégia nacional, as estratégias regionais florestais das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, igualmente, integraram de forma autónoma a “Estratégia Nacional para as Florestas”, na mesma Resolução. Esta integração, «resultou da articulação entre as autoridades florestais nacional e regionais e em conformidade com o solicitado pelos respectivos Governos Regionais» [...], «tendo também sido vertidas para o corpo do texto principal as respectivas realidades regionais e as principais opções estratégicas.»



Interior do Ursal de Altitude
(Erica platycodon ssp. maderincola e Vaccinium padifolium - foto do autor)


- Estado actual da floresta da Região Autónoma da Madeira:

Dados recentes, divulgados pela Direcção Regional de Florestas, ao Jornal da Madeira de 30 de Julho de 2009, 43% da Madeira está coberta por floresta e por outras zonas arborizadas e ao todo são 34.224 hectares. A área urbana atinge os 5.987 hectares, ou seja, seis por cento dos 80.102 hectares da Região. Existem ainda, 24.882 hectares de matos e herbáceas (31%), 1.727 hectares de solos improdutivos (2%) e 12.407 hectares (15%) de terrenos agrícolas e menos de 1% de águas interiores (114 hectares).
Dos 34.224 hectares cobertos por floresta e por outras zonas arborizadas, 16.143 (47%) são de laurissilva e ripícola, 16.522 hectares de floresta cultivada (48%) e 1.559 hectares de outras áreas arborizadas (5%). Dentro da floresta cultivada, existe 119 hectares (1%), são de área ardida e 44 hectares (cerca de 0,33%) de zonas florestais de corte raso. Nesta perspectiva, dos anteriores citados 16.522 hectares de floresta cultivada, existem 16.359 hectares.
Na denominada floresta exótica ou introduzida, de entre as espécies dominantes, os eucaliptos, ocupam 6.222 hectares (38%) e o pinheiro-bravo 6.178 hectares (37%). As acácias abrangem 12% dessa floresta, com 2.016 hectares, o castanheiro 4%, com 607 hectares, outras folhosas, 351 hectares (2%), e as resinosas, 986 hectares (6%).
A floresta natural (16.143 hectares), é composta, essencialmente por Laurissilva, ocupa 15.868 hectares (98%) e a pequena franja de floresta ripícola, 125 hectares (1%). A restante área contabilizada, 150 hectares (1%), aponta para superfície ardida.
Na Madeira, Funchal e Câmara de Lobos têm mais área reservada a outros usos (entre os quais o urbano), com seis por cento da área. Matos e herbáceas atingem os 4.191 hectares (5%) e a floresta 3.691 hectares (5%). Machico e Santa Cruz, têm uma área de floresta de 6.291 hectares, (8%), a de matos ocupa 2.666 hectares (3%) e a de outros usos, incluindo urbano, 4.632 hectares (6%). No norte, (São Vicente, Santana e Porto Moniz) 17 mil hectares (21%) são de floresta, 4.444 de matos (6%) e 4.187 de outros usos (5%). A oeste, Calheta, Ponta do Sol e Ribeira Brava dedicam 4.485 hectares (6%) a outros usos, que não os florestais (6.888 hectares, 9%) e matos (10.938 hectares, 14%).
A Madeira tem 17,667 milhões de árvores, 11,298 milhões dos quais pertencem à Laurissilva, 1,464 milhões de pinheiros-bravos, 2,808 milhões de eucaliptos, 1,235 milhões de acácias, 500 mil outras folhosas e 399 mil outras resinosas.
No Porto Santo, a floresta ocupa apenas 354 hectares, enquanto que a área de matos e herbáceas atinge os 2.542 hectares e a dedicada a outros usos 1.352 hectares. Nas Desertas e nas Selvagens não há floresta nem matagais.
(Página actualizada em, 01-07-2009)




Bibliografia:


JARDIM, Roberto e FRANCISCO, David (2000). Flora Endémica da Madeira. 1.ª Edição. Múchia Publicações. Funchal.
FRANQUINHO, L. O. e COSTA, A. (1998). Madeira - Plantas e Flores. 16.ª Edição. Francisco Ribeiro e Filhos. Funchal.
NEVES, Henrique Costa e VALENTE, Ana Virgínia (1992). Conheça o Parque Natural da Madeira. Secretaria Regional da Economia - Parque Natural da Madeira.
NEVES, Henrique Costa et al. (1996). Laurissilva da Madeira - Caracterização Quantitativa e Qualitativa. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Parque Natural da Madeira. Funchal.
OLIVEIRA, Paulo (1999). A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Serviço do Parque Natural. Funchal. Funchal.
QUINTAL, Raimundo (1994). Veredas e Levadas da Madeira. Secretaria Regional e Cultura. Funchal.
QUINTAL, Raimundo (2003). Madeira, a Descoberta da Ilha de Carro e a Pé. 1.ª Edição. Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal. Funchal.
QUINTAL, Raimundo (2004). Levadas e Veredas da Madeira. 4.ª Edição. Francisco Ribeiro e Filhos Lda. Funchal.
SECRETARIA Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais. Plano Regional da Água da RAM.
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Mapa da Madeira, representando o Dragoeiro
(Foto by web)

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