Madeira vista do Porto Santo
(Foto Madeira Arquipélago)
(Foto Madeira Arquipélago)
As ilhas do Atlântico Norte foram conhecidas e exploradas por vários povos mediterrânicos, a partir de meados do século XIV, na qual também pelos portugueses. As Canárias foram as primeiras a serem reconhecidas, pela sua proximidade com a costa de África, seguindo-se as do Porto Santo e da Madeira, e as dos Açores ou as «terceiras», como por vezes referem os cronistas desta época.
A aventura portuguesa pela conquista das praças marroquinas e o aumento da navegação no Atlântico por parte dos castelhanos, coincidindo com a ocupação das ilhas Canárias por estes, a coroa portuguesa sentiu a necessidade de «ocupar» e povoar os arquipélagos já conhecidos.
A aventura portuguesa pela conquista das praças marroquinas e o aumento da navegação no Atlântico por parte dos castelhanos, coincidindo com a ocupação das ilhas Canárias por estes, a coroa portuguesa sentiu a necessidade de «ocupar» e povoar os arquipélagos já conhecidos.
Porto Santo, visto da Madeira
(Foto do autor)
O primeiro (?) «contacto com o arquipélago da Madeira foi feito pela designada «Armada do Algarve», tendo sido escolhidos para esta missão dois distintos escudeiros do infante D. Henrique, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, que se deslocaram ao Porto Santo em 1418» e no ano seguinte à Madeira, procedendo ao seu «reconhecimento oficial para a coroa portuguesa». Deste reconhecimento da Ilha da Madeira foram «recolhidas amostras das respectivas águas e madeiras», segundo o Coronel Rui Carita (A Arquitectura Militar na Madeira nos Séculos XV a XVII).
O autor anterior citado, mais refere que o «rei D. João I ordenou o povoamento do arquipélago da Madeira entre 1420 e 1425. Este foi dividido em três capitanias: Funchal e Machico, na Madeira, doadas a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, escudeiros do infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo; e a ilha do Porto Santo concedida a Bartolomeu Perestrelo, fidalgo da casa do infante D. João, mestre da Ordem de Santiago da Espada».
O autor anterior citado, mais refere que o «rei D. João I ordenou o povoamento do arquipélago da Madeira entre 1420 e 1425. Este foi dividido em três capitanias: Funchal e Machico, na Madeira, doadas a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz, escudeiros do infante D. Henrique, mestre da Ordem de Cristo; e a ilha do Porto Santo concedida a Bartolomeu Perestrelo, fidalgo da casa do infante D. João, mestre da Ordem de Santiago da Espada».
Caravela
(Foto Madeira Arquipélago)
(Foto Madeira Arquipélago)
O povoamento e a origem geográfica dos povoadores do arquipélago madeirense, sempre estiveram rodeados de brumas iguais às que esconderam as ilhas no oceano Atlântico por milhares de anos dos povos europeus e africanos. Podemos atestar esta premissa pelas dificuldades dos historiadores, não só, pela falta de documentação, como pelas descrições dos cronistas, por vezes ambíguas e pouco coincidentes. Todavia, o povoamento da Madeira teve por base os companheiros de Zarco e de Tristão, que se encontravam no Algarve ao serviço do infante D. Henrique. Por outro lado o povoamento do Porto Santo teve assento em Bartolomeu Perestrelo, que segundo os cronistas, acompanhou Zarco e Tristão na segunda viagem de reconhecimento ao Arquipélago.
Porto Santo
(Foto Madeira Arquipélago)
(Foto Madeira Arquipélago)
A falta de documentação dificulta o elucidar da origem dos povoadores da ilha de «São Brandão» ou Porto Santo. «Não é possível saber-se a forma como teve lugar o primeiro assentamento e a origem dos colonos» desta ilha, segundo Alberto Vieira (Porto Santo - Breve Memória Histórica - Centro de Estudos de História do Atlântico). «Insiste-se numa forte presença algarvia e na sua origem fidalga», segundo este, e que «apenas por um documento de 1529 sabe-se que a ilha começou a povoar-se com sete ou oito homens». Para percebermos a complexidade do povoamento do Porto Santo basta apenas «conhecer» que após o assalto perpetrado por corsários argelinos a esta ilha em 1617, «ficou quase deserta». Segundo o Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento, «os argelinos levaram 900 cativos, só ficando, 19 homens e 7 mulheres. Isto levou a Coroa a atribuir, em 13 de Agosto de 1619, a Martim Mendes de Vasconcellos a difícil tarefa de repovoar a ilha com gentes do Porto da Cruz, Caniçal e Santa Cruz». Assim podemos concluir que, os actuais habitantes desta ilha tiveram uma forte ligação e ascendência aos povoadores da capitania de Tristão Vaz e vice-versa.
Porto Santo
(Foto Madeira Arquipélago)
(Foto Madeira Arquipélago)
Relativamente à Ilha da Madeira, Francisco Alcoforado, o mais antigo cronista escreve, «que os primeiros companheiros de Zarco seriam principalmente do sul do País, mais concretamente de Lagos». Mas, a grande parte dos povoadores que nos anos seguintes se deslocou para a Madeira veio em grande número, do Norte do continente português, possível área de origem da família de Zarco e também da de Tristão Vaz. Tal como os dias de hoje e fazendo um paralelo com a diáspora madeirense, onde em regra emigra o «pai ou irmão mais velho», logo lhe segue os restantes familiares.
Madeira
(Foto do autor)
É «comum atribuir-se a proveniência algarvia aos primeiros e principais povoadores que desencadearam a ocupação da ilha», segundo, Luís de Albuquerque e Alberto Vieira, na sua obra, «O Arquipélago da Madeira no Século XV». Segundo estes, «essa ideia filia-se na tradição, que corre no Algarve, da participação das suas gentes na gesta expansionista, e na expressão de Jerónimo Dias Leite, ‘muitos do Algarve’». Ainda mais referem que, lhes parece apressada esta concepção, «uma vez que faltam provas que a corroborem», e que numa «listagem dos primeiros povoadores referidos nos documentos e crónicas a presença nortenha é muito superior à algarvia (64% para 25%); por outro lado os registos paroquiais da freguesia da Sé, no período de 1539 a 1600, corroboram esta conclusão, uma vez que os nubentes oriundos de Braga, Viana e Porto representam metade do total; enquanto os provenientes de Faro não ultrapassam os 3%». Partindo da análise destes dados retirados destes mesmos registos (1539 e 1600), «chega-se à conclusão que metade da população não nascida na Madeira era originária do Norte do País», e que a «situação do século anterior» (século XIV) «não deve ter sido por certo diferente».
Assim, Luis de Sousa Melo, antigo Director do Arquivo Regional da Madeira, igualmente é da mesma opinião. Numa «tentativa de aproximação com base nos registos de casamento da paróquia da Sé», nas mesmas datas (1539 a 1600), foi-lhe «possível averiguar» que, para este período, «foi da província do Minho, com os distritos de Braga e Viana do Castelo, que a maioria dos recém-chegados era natural: 54,4% - muito longe dos 13,2% dos do Douro Litoral, mais ainda dos 8,3% da Estremadura, a que se seguiram os naturais das Beiras com 5%, os de Trás-os-Montes e Alto-Douro com 4,5%, depois os do Algarve com 3,7%, os do Alentejo com 2,5%, e por fim os do Ribatejo com 1,2%. (Fonte, «Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860»).
Assim, Luis de Sousa Melo, antigo Director do Arquivo Regional da Madeira, igualmente é da mesma opinião. Numa «tentativa de aproximação com base nos registos de casamento da paróquia da Sé», nas mesmas datas (1539 a 1600), foi-lhe «possível averiguar» que, para este período, «foi da província do Minho, com os distritos de Braga e Viana do Castelo, que a maioria dos recém-chegados era natural: 54,4% - muito longe dos 13,2% dos do Douro Litoral, mais ainda dos 8,3% da Estremadura, a que se seguiram os naturais das Beiras com 5%, os de Trás-os-Montes e Alto-Douro com 4,5%, depois os do Algarve com 3,7%, os do Alentejo com 2,5%, e por fim os do Ribatejo com 1,2%. (Fonte, «Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860»).
Madeira
(Foto do autor)
Escreve, Alberto Vieira no seu artigo, «O Infante e a Madeira: Dúvidas e Certezas - Centro de Estudos de História do Atlântico», ainda mais que «a mesma ideia é reafirmada por recente estudo em que se analisa a situação das demais freguesias da Madeira no século XVI», e mais uma vez são «remetidos para o norte do país, onde se destacam Braga (11%), Viana do Castelo (8,4%)».
Segundo o autor supracitado, «o povoamento da Madeira é um processo faseado, em que intervêm colonos oriundos dos mais recônditos destinos, e que de todo o Reino surgem gentes empenhadas nesta experiência tentadora, é de prever a confluência de várias localidades, em especial as áreas ribeirinhas - Lisboa, Lagos, Aveiro, Porto e Viana -, adestradas no arroteamento de terras incultas». Se do Algarve partiram «muitos dos apaniguados da casa do infante, com uma função importante no lançamento das bases institucionais do senhorio, não é menos certo que do Norte de Portugal, nomeadamente da região de Entre-Douro e Minho, provêm os cabouqueiros necessários ao desbravamento da densa floresta e preparar o solo para as culturas mediterrânicas - cereal, vinha, cana-de-açúcar e pastel».
Segundo o autor supracitado, «o povoamento da Madeira é um processo faseado, em que intervêm colonos oriundos dos mais recônditos destinos, e que de todo o Reino surgem gentes empenhadas nesta experiência tentadora, é de prever a confluência de várias localidades, em especial as áreas ribeirinhas - Lisboa, Lagos, Aveiro, Porto e Viana -, adestradas no arroteamento de terras incultas». Se do Algarve partiram «muitos dos apaniguados da casa do infante, com uma função importante no lançamento das bases institucionais do senhorio, não é menos certo que do Norte de Portugal, nomeadamente da região de Entre-Douro e Minho, provêm os cabouqueiros necessários ao desbravamento da densa floresta e preparar o solo para as culturas mediterrânicas - cereal, vinha, cana-de-açúcar e pastel».
Madeira
(Foto do autor)
Na realidade, o Norte de Portugal, nos séculos XIV e XV era a região do país com maior densidade populacional por um lado e por outro, esta região sempre teve uma «permanente vinculação à economia madeirense». No «reinado de D. João II» (1481 a 1495), escreve Eduardo C. N. Pereira nas Ilhas de Zargo, «os mercadores de Guimarães navegavam entre os arquipélagos dos Açores, Madeira, Continente e Flandres com naus do Porto, Vila do Conde, Viana, Azurara e Aveiro, negociando açúcares, pimenta... panos de baetilha, chapéus, linhos, etc. Guimarães era sede de um vasto termo e extensíssima comarca de 30 concelhos e chave do comércio com os concelhos interiores de Entre-Douro e Minho e Trás-os-Montes».
A Madeira atraiu a partir de meados do século XV uma vaga de forasteiros, mercê da prioridade na ocupação e na exploração do açúcar, resultante dos circuitos comerciais madeirenses com o Mar Mediterrânico e Norte da Europa. Segundo Alberto Vieira, «a coroa facultava a entrada e a fixação de italianos» (florentinos e genoveses), «flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcar». Luis de Sousa Melo, (Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860) mais acrescenta que, «a introdução da cana sacarina, a construção das levadas transportadoras de água, e dos engenhos fabricadores de açúcar trouxeram gentes das mais variadas origens e condições sociais, desde os escravos «oxipticios» ou ciganos até aos cultivadores, comerciantes, rendeiros, produtores e exportadores, galegos uns, genoveses e flamengos outros».
A Madeira atraiu a partir de meados do século XV uma vaga de forasteiros, mercê da prioridade na ocupação e na exploração do açúcar, resultante dos circuitos comerciais madeirenses com o Mar Mediterrânico e Norte da Europa. Segundo Alberto Vieira, «a coroa facultava a entrada e a fixação de italianos» (florentinos e genoveses), «flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcar». Luis de Sousa Melo, (Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal 1761 - 1860) mais acrescenta que, «a introdução da cana sacarina, a construção das levadas transportadoras de água, e dos engenhos fabricadores de açúcar trouxeram gentes das mais variadas origens e condições sociais, desde os escravos «oxipticios» ou ciganos até aos cultivadores, comerciantes, rendeiros, produtores e exportadores, galegos uns, genoveses e flamengos outros».
Madeira
(Foto do autor)
«Havia judeus na Madeira no século XV», refere o Elucidário Madeirense, «tendo muitos deles, com vontade ou sem ela, abraçado o cristianismo, depois do bárbaro decreto da expulsão dos filhos de Israel, publicado por D. Manuel em Dezembro de 1496». Em 1461 na Madeira, «revela a petição dirigida ao infante uma certa má vontade contra os israelitas, má vontade que só bem claramente se manifestou mais tarde, quando a intolerância e o fanatismo de D. Manuel vieram abrir caminho ás perseguições de que foram vitimas os membros dessa raça proscrita, ainda mesmo quando aceitavam o baptismo, para evitar a expulsão do país». Ainda no século XVII, os cristãos-novos «Fintados pelo Perdão de 1605», era-lhes cobrado a «finta», «segundo instruções dadas por Filipe III» ao «licenciado António Ferreira, encarregado desta cobrança», neste Arquipélago, e só «mulheres de nação casadas com ou viúvas de cristãos-velhos de quatro costados que viviam honestamente, estavam isentas», segundo Nelson Veríssimo, (Relações de Poder na Sociedade Madeirense do Século XVII).
Os 60 anos de «domínio filipino», entre 1580 e 1640, e as ligações comerciais com as ilhas Canárias, acrescentaram outras gentes oriundas da Península Ibérica «não portuguesa».
Os 60 anos de «domínio filipino», entre 1580 e 1640, e as ligações comerciais com as ilhas Canárias, acrescentaram outras gentes oriundas da Península Ibérica «não portuguesa».
Madeira
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Regista-se por fim, a presença de ingleses, que adquiriram um lugar relevante no arquipélago da Madeira a partir do século XVII. «Os flamengos os primeiros que se entregaram aqui a operações bancárias» e também comerciais, «seguindo-se-lhes os ingleses que, como é sabido, adquiriram grande proponderancia nos negocios da Ilha, do meado do seculo XVII em diante», segundo o Elucidário. Estes obtiveram notável influência e predomínio, em vários ramos de comércio na ilha da Madeira, estando inteiramente na sua dependência a exportação dos vinhos madeirenses, designadamente para as colónias britânicas.
A «colónia inglesa» na Madeira, escrevem os autores do mesmo Elucidário, «não chegou nunca a radicar simpatias no nosso meio, a pesar do predomínio e da influencia de que gozava. O orgulho de raça, o isolamento que quasi sempre procurou guardar, a altivez com que em geral tratava os naturais, as raras manifestações de filantropia ou benemerencia em favor da terra que a tornou opulenta, são as principais causas de não ter criado um ambiente que lhe fosse propicio e a tornasse benquista aos olhos dos madeirenses». Contudo, «não é também de estranhar que […] insulares, vivendo no isolamento do oceano e sem espírito algum de reacção contra as influencias estranhas, se deixassem seduzir pelos costumes, tendências e predilecções de estrangeiros, que vinham dos grandes centros europeus e eram considerados como os verdadeiros protótipos de um povo civilizado, sendo certo que essas influencias exerceram em alguns pontos uma acção muito benéfica» no meio madeirense, «especialmente nas relações sociais e no convívio elegante das chamadas pessoas de sociedade». Por outro lado, «a um numero relativamente grande de súbditos inglêses se deve o estudo de certos ramos de historia natural» do arquipélago da Madeira, existindo «trabalhos muito valiosos e de profunda e demorada pesquisa cientifica, que não podem nem devem ser esquecidos pelos madeirenses».
A «colónia inglesa» na Madeira, escrevem os autores do mesmo Elucidário, «não chegou nunca a radicar simpatias no nosso meio, a pesar do predomínio e da influencia de que gozava. O orgulho de raça, o isolamento que quasi sempre procurou guardar, a altivez com que em geral tratava os naturais, as raras manifestações de filantropia ou benemerencia em favor da terra que a tornou opulenta, são as principais causas de não ter criado um ambiente que lhe fosse propicio e a tornasse benquista aos olhos dos madeirenses». Contudo, «não é também de estranhar que […] insulares, vivendo no isolamento do oceano e sem espírito algum de reacção contra as influencias estranhas, se deixassem seduzir pelos costumes, tendências e predilecções de estrangeiros, que vinham dos grandes centros europeus e eram considerados como os verdadeiros protótipos de um povo civilizado, sendo certo que essas influencias exerceram em alguns pontos uma acção muito benéfica» no meio madeirense, «especialmente nas relações sociais e no convívio elegante das chamadas pessoas de sociedade». Por outro lado, «a um numero relativamente grande de súbditos inglêses se deve o estudo de certos ramos de historia natural» do arquipélago da Madeira, existindo «trabalhos muito valiosos e de profunda e demorada pesquisa cientifica, que não podem nem devem ser esquecidos pelos madeirenses».
Madeira
(Foto do autor)
Este grupo europeu, teve uma importância primordial na formação de uma população madeirense. O Arquipélago é o primeiro espaço geográfico, onde não existia outros povos a ser colonizado por europeus fora da Europa. A sua presença nestas ilhas do Atlântico tornou pouco expressiva a presença de outros grupos étnicos não europeus. Destes apenas se salientam os africanos (mouros, negros, e guanches ou canários), que surgiram nas ilhas sob à condição servil, onde desempenharam um importante papel relacionado com o arranque da economia açucareira, nomeadamente na Madeira. Os autores do Elucidário Madeirense escrevem que, «foi o solo da Madeira regado pelo suor dos escravos negros, mouros e mulatos. Nos fins do século XV, havia nesta ilha o número aproximado de dois mil escravos, que era bastante avultado ao lado da população europeia, que então orçaria por quinze a dezoito mil habitantes. A distribuição das terras pelo sistema das sesmarias favoreceu o estabelecimento de muitas ‘fazendas povoadas’, em que ‘os primitivos povoadores’ viviam com as suas familias e escravos, tornando-se em breve os proprietários das mesmas terras e deixando o cultivo delas aos colonos e escravos». Por 1490, proibiu-se a residência na Madeira aos indivíduos oriundos de Grã Canária, Palma, Tenerife e Gomera, mas em 1515 foi esta ordem revogada para «aqueles que exercessem o oficio de mestres de açucares».
Madeira
(Foto do autor)
Tudo indica que, deste grupo os preferidos seriam os mouros. O Tenente-Coronel Alberto Artur Sarmento publicou no «N.º 1983 do artigo Heraldo da Madeira» um artigo interessante acerca dos mouros na Madeira, do qual é igualmente transcrito no Elucidário. Segundo este, «o mouro era mais trabalhador do que o escravo da Guiné e da Mina, por isso a preferência dos senhores das terras em importa-lo para as suas fazendas de cultivo. Este comercio escandaloso em que se entendiam de cá os donatarios, e das praças d’Africa os governadores, que ordenavam razias, originou o clamor do chefe dos mouros que lamenta em carta a D. Manoel, o que fazia Azambuja, apanhando a torto e a direito e de todas as classes, para enviar de contracto aos capitães da Madeira. É o que se depara nos Documentos arábicos copiados dos originaes da Torre do Tombo, 1790. Os mouros formaram núcleos importantes, reunindo-se em grupo ou bairro á parte, como o attesta a Mouraria, uma das ruas mais antigas do Funchal», [?] e «tiveram grande commercio nas villas, especialmente em Ponta do Sol e Santa Cruz. N’esta ultima mostrava-se ainda ha annos um retábulo existente na igreja parochial, onde figuravam escravos mouros usando um pequeno turbante afunilado, com uma ponta cahida, de que derivaram a carapuça do villão e a toalhinha pendente da cabeça, antigos trajes característicos da camponeza da Madeira. Dos mouros, a dolência dos cantares, mas a dança repisada é movimento de negro. Dos mouros as lengas-lengas serranas, os populares: lengi lengi o nevoeiro corriqueiro, a formiga que o seu pé prende. Entre as brumas, princezas encantadas, as historias de palácios e riquezas enthesouradas, ladrões e varas de condão, são influencias e assumptos do povo, migrados nesta corrente de longe subordinada. Dos mouros ainda o cuscuz, essa massa granulada de farinha de trigo, tão apreciada pelas classes pobres e que só a comem nas ocasiões solenes, com um naco de carne de porco, pelos baptisados e casamentos, não faltando o ramo de segurelha e coentro que encima o prato e o aromatisa. Vae-te p’ra Argel é uma praga popular que relembra o saque e captiveiro em terras da moirama».
Madeira
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Este grupo servil, surgiu com uma importância relevante na sociedade madeirense no século XV. O «seu peso gerou preocupação e tomou necessária a regulamentação dos seus movimentos e do seu espaço de convívio; daí a exigência dos nele incluídos usarem um sinal, de se recolherem à casa do senhor, ao mesmo tempo que se ordenou a explosão dos forros, com excepção dos canários». Ainda que «os escravos se encontrassem dispersos por toda a ilha» (da Madeira), segundo o Elucidário Madeirense, «nomeadamente no Funchal, Ponta do Sol, Machico e Curral das Freiras se constituíram importantes núcleos de população negra e mourisca, que entre si se foram cruzando e também misturando com os habitantes descendentes dos colonos continentais, diluindo-se e confundindo-se deste modo na população madeirense os traços característicos daquelas raças. Um numero, porém, considerável de indivíduos negros, mulatos e mouros conservou, até há poucos anos ainda, as linhas fisionómicas que distinguem os povos donde descendiam. Não é raro encontrar-se ainda alguns indivíduos com os traços bem acentuadamente definidos da raça» negra.
Madeira
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Nas décadas de 60 e 70 do século XX na Madeira, raramente se observava habitantes com características africanas, (excepto mouriscas), apenas visitantes ocasionais e tripulantes dos Navios que atracavam no Porto do Funchal. O regresso das gentes das ex-colónias, após a revolução dos cravos, e a necessidade de importar mão-de-obra do exterior face às grandes obras efectuadas na Madeira e Porto Santo, o espaço insular foi enriquecido com outras pessoas deste continente. Actualmente, e ao contrário do século anterior é possível ver no Arquipélago da Madeira, gentes dos quatro «cantos do mundo».
Madeira
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Estudos genéticos recentes (que não são objecto deste artigo), realizados pelo Laboratório de Genética Humana, da Universidade da Madeira, coordenado pelo Biólogo madeirense, Hélder Spínola, permitiram a identificar perfil genético da população do Arquipélago, e não só, também de Portugal Continental e Arquipélagos dos Açores, Cabo Verde e S. Tomé, e também da Guiné. Tudo indica que esse «mesmo perfil» não foge à história das ilhas e as marcas das gentes que as habitam. Segundo estes estudos os habitantes do Arquipélago terão influências de cerca «10 a 15% de características genéticas africanas», muito parecidas com as do Algarve. Este trabalho teve igualmente uma «relação com outras áreas de investigação, como a História, a Arqueologia e a Antropologia».
Nos dias de hoje, a «força da tradição», ainda domina a «premissa» que o Arquipélago da Madeira foi povoado unicamente por algarvios!
Nos dias de hoje, a «força da tradição», ainda domina a «premissa» que o Arquipélago da Madeira foi povoado unicamente por algarvios!
Madeira
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Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de e VIEIRA, Alberto (1987). O Arquipélago da Madeira no Século XV. Secretaria Regional do Turismo e Cultura. Funchal.
CARITA, Rui (1999). A Arquitectura Militar da Madeira nos Séculos XV a XVII. Universidade da Madeira. Funchal - Lisboa. Volume I.
CARITA, Rui (1998 - 1999). História da Madeira. Secretaria Regional da Educação. Volume I. Funchal.
GOVERNO Regional da Madeira (1986). Actas do I Colóquio Internacional de História da Madeira. Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
MELLO, Luis de Sousa. Presença Açoriana nos Registos Paroquiais do Funchal (1761 - 1860). Centro de Estudos de História do Atlântico. Funchal.
PEREIRA, Eduardo C. N. (1989). Ilhas de Zargo. 4.ª Edição. Câmara Municipal do Funchal. Funchal.
SARMENTO, A. Arthur (1933). Notícia histórico - militar sobre a Ilha do Porto Santo: memória apresentada a Comissão de História Militar. Tip. do Diário de Notícias. Funchal.
SARMENTO, A. Arthur (1938). Escravos na Madeira. Oficinas do Diário de Notícias. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
VERÍSSIMO, Nelson (2000). Relações de Poder na Sociedade Madeirense do século XVII. Secretaria Regional do Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
VIEIRA, Alberto. Porto Santo - Breve Memória Histórica. Centro de Estudos de História do Atlântico. Funchal.
VIEIRA, Alberto. O Infante e a Madeira: Dúvidas e Certezas. Centro de Estudos de História do Atlântico. Funchal.
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