25/12/2008

ATALAIA (Sítio, Ponta e Pico da)

Pico da Atalaia - Caniço - Madeira
(Foto do autor)

ATALAIA - Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, 6.ª Edição, da Porto Editora, a palavra «atalaia», (do árabe at-talai’a), significa «torre ou lugar de vigia».
Os lugares de vigia ou atalaias, também conhecidos por fachos ou almenaras, incorporavam o sistema militar de vigilância e defesa das ilhas, designado por vigias. As vigias, tiveram o seu regimento no território nacional em 1570. No Arquipélago da Madeira, já tinham sido estabelecidas em 1567. O espaço geográfico madeirense, ainda guarda na sua toponímia os locais onde se montavam esses postos de vigilância. Assim, pelo topónimo atalaia são conhecidos: o Pico da Atalaia (Ilhas Selvagens); o Pico da Atalaia (1) ou da Gandaia (Porto Santo); Pico e Ponta da Atalaia, Sítio da Atalaia e Portinho, Caniço, (Madeira). Este topónimo é frequente em Portugal continental, Açores e nos países que falam a língua portuguesa.

Pico e Ponta da Atalaia - Caniço - Madeira
(Geomonumento do vulcanismo moderno madeirense - Cone vulcânico)
(Foto do autor)

Pico do Castelo, Pico do Facho e Pico da Atalaia ou da Gandaia
Porto Santo
(Foto do autor)

Pico da Atalaia - Selvagem Grande
(À esquerda da foto, onde se localiza o Farol - Foto do autor)



Fortificações no Arquipélago da Madeira


Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição do Ilhéu
Funchal - Madeira
(Foto do autor)
[…]
Nestas ilhas atlânticas, o perigo irrompia do mar. A fronteira marítima constituía preocupação dominante. À Madeira e Porto Santo poder-se-ia também a aplicar a bem apropositada afirmação do padre António Cordeiro relativamente às Ilhas Terceiras: «…cada huma das taes Ilhas he huma perpetua, e viva sempre fronteyra, e de guerra sempre viva com Mouros, Cossarios, que com ninguém tem paz, e com as nações inimigas de Portugal, que a elle se não atrevem a vir, e vão, e saltão na Ilha a todo o tempo, e quando menos se cuyda».[…]
In, VERÍSSIMO, Nelson (2000). Relações de Poder na Sociedade Madeirense do século XVII. Funchal: Secretaria Regional do Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais, p. 295.

Foram sempre as ilhas do arquipélago madeirense, alvo da cobiça da pirataria que praticava o corso no Atlântico Norte. Desde o início do povoamento, houve necessidade de criar um sistema de vigilância e defesa do território insular. Assim, nasceram as vigias ou estações militares de vigilância e defesa costeira, que também exerciam missões de fiscalização contra o contrabando. Estas, vigiavam o mar, as costas e praias, com a finalidade de darem alarme de corsários ou de quaisquer outros navios inimigos e evitar desembarques e ataques de surpresa às povoações. As Vigias foram "regimentadas" para o Arquipélago da Madeira por D. Sebastião em 1567, sendo depois decretadas para o todo nacional em 1570. Estes regimentos estabeleciam que junto às Vigias, se construíssem pequenas «casas fortes artilhadas e com instalações para armazenagem de pólvora» e torres ou pontos de vigilância (atalaias), «para resistir ao mar e evitar surpresas» (Elucidário Madeirense). Foram as Vigias, inicialmente guarnecidas por uma força armada com base nas milícias, mais tarde, denominadas de ordenanças ou companhias de ordenanças.


Vigia do Pico do Facho - Machico - Madeira
(Foto do autor)

Os centros urbanos das duas capitanias da Madeira (Funchal e Machico), foram desde o início, dois polos importantes de comércio e navegação. Os donatários, sabendo do «dano que os mouros causavam no alto mar às embarcações mercantes» e temendo um ataque às prósperas vilas, solicitaram à coroa portuguesa que se construíssem fortificações para defesa dos seus residentes. D. Manuel, «providenciou para que se fizesse uma cerca na vila do Funchal, prometendo que depois desta concluída, se passaria a idêntica fortificação na vila de Machico, porém, considerando os encargos que isso traria, foi reduzindo o seu projecto a um baluarte apenas no Funchal, que seria pago por acréscimo do tributo do açúcar e computado em 1:266$ anuais, grossa quantia nessa época, além de um dia de trabalho obrigatório, de que somente teriam escusa os fidalgos» (Elucidário Madeirense).

Troço da muralha que cercava a cidade do Funchal
(Rua Major Reis Gomes, junto ao Dolce Vita - Foto do autor)

Os trabalhos de fortificações, começaram somente com a construção do baluarte e torreão, no Funchal, dando-lhe «impulso as novas contribuições lançadas no reinado de D. João III, especialmente a imposição das carnes, modificando-se depois o projecto de defesa em 1572, que manda se faça fortaleza» (actual Fortaleza-Palácio de São Lourenço) «com três baluartes, se derribem as casas que lhe são impedimento, se cortem os balcões da frontaria do calhau, onde se hão-de construir os muros da cidade com cinco portas, duas ao sul para o mar, uma a leste e duas a oeste, correndo as muralhas entre as ribeiras de João Gomes e de São Francisco» (ribeira Grande ou de São João), «a entestarem nos morros da Pena e do Pico dos Frias» (Elucidário Madeirense).
O saque efectuado pelos corsários franceses ao Funchal em Setembro de 1566, comandados por «Bertrand de Montluc, gentil-homem da casa de Carlos IX e segundo filho do marechal Blaise de Montluc» (A Arquitectura Militar na Madeira nos Séculos XV a XVII, Rui Carita), após o desembarque feito na Praia Formosa, fez com que se observasse para a «defesa da costa, trabalhando-se nos entrincheiramentos em pontos que dominavam o mar, nas rochas a cavaleiro sôbre as povoações e que se chamavam fortes roqueiros, a cargo das vigias e superintendência dos capitãis-cabos & os portos se empossebillytaram asy & da maneyra que se fez de camara dellobos atee a cidade» (Elucidário Madeirense).

Baía do Porto Santo, vista do Pico do Castelo
(Foto do autor)

No período do domínio filipino, modificaram-se os preceitos da defesa segundo o «traçado poligonal» e foram construídos os fortes de São Tiago, São Filipe, Loures e Penha de França, e iniciou-se a Fortaleza do Pico (no Pico dos Frias), no Funchal. Iniciou-se igualmente, a construção em Machico, do Forte de São Roque e do Castelo do Pico (?), no Porto Santo.
No Funchal, no período da Restauração (século XVII), fizeram-se o reduto de Santo António da Alfândega, (actual edifício da Assembleia Legislativa da Madeira), o de Santa Catarina e a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição do Ilhéu e prologaram-se as muralhas da cidade do Funchal para leste, até a Fortaleza de São Tiago.
Mais tarde e no século XVIII foram construídos os Fortes de, «São Pedro e São José da Pontinha, no Funchal; na costa até Câmara de Lobos, os do Gorgulho» (Gorgulho e Bateria do Calaça ou Forte do Aloravel), os da Praia Formosa, (Forte da Ponta da Cruz, Forte da Engenhoca, Forte da Praia, Reducto da Porta da Praia e Forte do Areeiro ou Arieiro), «Nossa Senhora da Vitoria, Pastel», São Sebastião e Reducto do Canavial em Câmara de Lobos; (...) «o de São Bento, na Ribeira Brava; os da Madalena do Mar, Ponta do Sol e Calheta; a Fortaleza de Santo António, no Paul do Mar; o Forte do Porto do Moniz; o do Faial, o da Entroza, na Boaventura, o da Terrachã, em São Vicente, o de São Jorge e o do Arco de São Jorge; o do Porto da Cruz; o reduto do Caniçal; os Fortes de São João Baptista e Nossa Senhora do Amparo, em Machico; os de São Francisco, São Lazaro e Nossa Senhora da Graça, em Santa Cruz; o Fortim da foz da Ribeira do Porto Novo; o dos Reis Magos e o da Ribeira do Caniço; e o Forte de São José, na ilha do Porto Santo» (Elucidário Madeirense).
No século XIX, foram construídos a Bateria das Fontes, próximo da Fortaleza de São Lourenço (junto à foz da ribeira Grande ou de São João), «o reduto do Seixo, em Água de Pena, o Forte do Porto Novo, no Caniço, e o reduto do Pico de São João» (Elucidário Madeirense).
Da defesa e da fortificação das ilhas que o tempo esqueceu, a incúria humana e a força da natureza destruiu, em cinco séculos, nem a memória escrita na toponímia local guardou todos os fortes e redutos construídos no arquipélago madeirense.

Pico e Ponta da Atalaia - Caniço - Madeira
Reduto do Portinho (Paulo Dias de Almeida, 1817), Reduto dos Reis Magos (António Pedro de Azevedo, 1879), à esquerda da foto.
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(1) Pico da Atalaia ou da Gandaia - Desconhecemos a origem da denominação toponímica de «Gandaia» ao Pico da Atalaia do Porto Santo. Pico este, situado no interior da região setentrional da Ilha, atingindo 492 metros de altitude, junto ao Pico do Facho. Mas, conhecemos a "predisposição natural" do porto-santense em particular, e do madeirense em geral, para o sarcasmo!
«Gandaia», palavra com origem no espanhol (gandaya) e no catalão, (gandalla), segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, 6.ª Edição - Porto Editora, significa: «acto de revolver o lixo para encontrar alguma coisa de valor; ociosidade; vadiagem». «Gandaiar» é «vadiar»! «Gandaeiro», aquele que anda à «gandaia»! Será que as sentinelas da «atalaia» andavam à «gandaia»!? Actualmente, o Pico da Atalaia é mais conhecido por Pico da Gandaia.




Bibliografia:

CARITA, Rui (1999). A Arquitectura Militar da Madeira nos Séculos XV a XVII. Universidade da Madeira. Funchal - Lisboa. Volume I.
COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
VERÍSSIMO, Nelson (2000). Relações de Poder na Sociedade Madeirense do século XVII. Secretaria Regional do Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
Link: Projecto SIDCARTA (Espólio da Engenharia Militar Portuguesa).

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