19/08/2009

BAIXO (lugares, sítios, caminhos, ruas, ilhéu e pico de)



Pico de Baixo e Ilhéu de Cima
(Porto Santo - Foto do autor)

Nas ilhas do Arquipélago da Madeira, são vulgares os topónimos com as palavras "de Baixo" (preposição de + adjectivo baixo), que definem a posição, a situação ou a localização geográfica de um determinado lugar. Podem, igualmente traduzir: a contraposição "de cima"; o mais abaixo; o em posição inferior; o mais à frente; o mais avançado; o menos elevado; o de cota mais baixa.

Ilhéu de Baixo ou da Cal, visto do Pico do Castelo
(Foto do autor)

Poderemos dar como exemplos os seguintes topónimos: Achada de Baixo (Gaula); Boqueirão de Baixo (Porto Santo); Caminho Areeiro de Baixo (São Martinho - Funchal); Caminho da Queimada de Baixo (Água de Pena - Machico); Campo de Baixo (Porto Santo); Caniço de Baixo (Caniço); Carreiras de Baixo (Santa Maria Maior e Camacha); Casais de Baixo (Ribeira da Janela); Corujeira de Baixo (Faial e Monte); Curral de Baixo (Curral das Freiras); Fajã de Baixo (Fajãs - Calheta); Fajã Grande de Baixo (Faial); Falca de Baixo (Boaventura); Fanal de Baixo (Ribeira da Janela); Feiteira de Baixo (Santana); Feiteiras de Baixo (Chão das Feiteiras - Ribeiro Frio e São Vicente); Graça de Baixo (Machico); Lombo de Baixo (Faial); Ilhéu de Baixo ou da Cal (Porto Santo); Lugar de Baixo (Ponta do Sol); Maiata de Baixo (Porto da Cruz - Machico); Fundoa de Baixo (Funchal); Moinhos de Baixo (Caniço); Palmeira de Baixo (Caniçal - Machico e Câmara de Lobos); Passeio de Baixo (Largo Dr. José António d' Almada - Machico); Pedra Mole de Baixo (Porto do Moniz); Pico de Baixo (Porto Santo); Rua da Queimada de Baixo (Funchal); Rua do Ribeirinho de Baixo (Funchal); Salão de Baixo (Ponta do Pargo); Vale de Baixo (Ribeira Brava); etc. A costa sul da Madeira, entre os concelhos de Câmara de Lobos, da Ribeira Brava, da Ponta do Sol e da Calheta é usualmente chamada Costa de Baixo.

Campo de Baixo - Porto Santo
(Foto do autor)

O Ilhéu de Baixo ou da Cal - Ilha do Porto Santo

Ilhéu de Baixo ou da Cal - Boqueirão de Baixo
(Foto do autor)

As erupções vulcânicas que deram origem ao Porto Santo (14 Ma), iniciaram-se na época do Miocénico do período Neogénico (Terciário). A este e a nordeste localiza-se o conjunto de aparelhos vulcânicos principais. É nesta área que se observa as maiores altitudes e os vales mais encaixados, apesar de ser a unidade geomorfológica mais antiga. O pico do Facho é o mais alto (517 m), seguindo-se o Branco, o da Atalaia ou da Gandaia e do Castelo, acompanhados a sudeste dos picos, do Concelho, dos Maçaricos e o de Baixo, estes de altitudes mais baixas.

Vista aérea sobre o Porto Santo
(Foto do autor)

A sudoeste salientam-se os picos, do Espigão e de Ana Ferreira, de formação mais recente que o grupo de cones vulcânicos do nordeste e apresentam altitudes bastante inferiores. Entre o Pico do Castelo e o Pico de Ana Ferreira, estende-se a depressão quase plana que constitui a terceira unidade geomorfológica desta ilha. As costas, leste, norte e oeste, são altas e escarpadas, com muitos recortes, contrastando com a extensa praia de areias calcárias fossilíferas que ocupam quase todo o litoral sudoeste, sul e sudeste da ilha, onde estudos científicos recentes as consideram de grande valor terapêutico. A este cenário geomorfológico junta-se os ilhéus: de Baixo ou da Cal, do Ferro, de Cima, das Cenouras, de Fora e o da Fonte da Areia. Os ilhéus, assim como os picos, são afloramentos rochosos que resistiram à erosão.

Boqueirão de Baixo
(Foto do autor)

O Porto Santo e os seus ilhéus, assentam sobre uma plataforma muito arrasada, resultante da acção do mar (abrasão marítima), conforme nos aponta a morfologia dos fundos submarinos, ocupada em tempos remotos pela actividade vulcânica primitiva resultante de um Hot Spot (pluma mantélica) sob a placa litosférica africana. Pela batimétrica dos 50 metros, une-se os ilhéus e baixos (baixas), descendo ligeiramente até aos 100 metros, para dar lugar a vertentes repentinas constituindo-se em vales submarinos que se prolongam para além dos 1000 metros.

Ponta da Calheta - Ilhéu de Baixo ou da Cal
(Foto do autor)

Situado no extremo sul da Ilha do Porto Santo, separado por um canal ou boqueirão (Boqueirão de Baixo), encontra-se o Ilhéu de Baixo. Este é igualmente conhecido pelo nome de Ilhéu da Cal, por ali ter havido exploração de pedra calcária para o fabrico de cal, empregada nas construções do arquipélago. Segundo o Elucidário Madeirense, a exploração «fazia-se em diversos pontos, dando-se o nome de rancho a cada grupo de operarios empregados nos diversos logares», sendo a extracção «tributada ao ser exportada para a Madeira, fazendo-se a cobrança do respectivo imposto na alfandega do Funchal», constituíndo uma das mais «apreciaveis receitas da Camara Municipal do Porto Santo». Igualmente, das suas pequenas praias, foram extraídos os calhaus calcários para utilização nas calçadas madeirenses nos acessos e pátios das Quintas e na Fortaleza - Palácio de São Lourenço. Neste mesmo monumento nacional e no seu pátio interior, com um olhar atento, podemos ler a história geológica do Porto Santo.

Idem, foto anterior
(Foto do autor)

Os terrenos do Ilhéu de Baixo ou da Cal sofreram levantamentos, o que é testemunhado pela presença do calcário muito acima do nível do mar, e pelas conchas marinhas, corais e pedras semelhantes às das praias. Os fósseis são da época miocenica superior, segundo o Elucidário, tendo sido descobertas tanto no calcário, como nos tufos adjacentes, corais, ouriços, moluscos e gastrópodes. A sua formação calcária está coberta por lavas e nas encostas do citado ilhéu, existem algumas furnas onde podem-se observar estalactites salinas.

Calhaus de basalto e calcários
(Foto do autor)

Relacionada com a presença humana foram introduzidos no Ilhéu de Baixo ou da Cal, propositadamente o Coelho (Oryctolagus cuniculus) e talvez acidentalmente o Murganho (Mus musculus). A presença destes animais contribui para a degradação do seu frágil coberto vegetal. Aqui, no início do povoamento, estaria de certeza representada a vegetação e flora indígena dos habitats terrestres do Porto Santo onde estaria parte da biodiversidade desta mesma ilha. A vegetação do Ilhéu de Baixo ou da Cal, assim como, dos restantes ilhéus do Porto Santo, seria constituída por comunidades vegetais de arbustos de pequeno porte e outras plantas herbáceas próprio de um bioclima inframediterrânico. De entre outras espécies de animais terrestres, presentes neste ilhéu, poderemos ainda encontrar, a Lagartixa (Teira dugesii jogeri), subespécie endémica da Ilha do Porto Santo e exemplares da fauna malacológica muito rica em espécies endémicas.

Idem, foto anterior
(Foto do autor)

Nas suas falésias, ainda poderemos mais encontrar algumas pequenas árvores, que nos pode indiciar um passado onde existiria uma vegetação arborescente do zambujal, segundo os especialistas. Por outro lado, esta presença humana neste mesmo ilhéu contribui para a introdução de outras espécies vegetais exóticas acidentalmente e outras invasoras, designadamente a Tabaqueira azul (Nicotiana glauca) e a Agave (Agave americana), que igualmente concorreram para o desaparecimento desse mesmo coberto de vegetação e flora indígena.

Falésias do Ilhéu de Baixo ou da Cal
(Foto do autor)

O Ilhéu de Baixo ou da Cal e os restantes ilhéus do Porto Santo, têm condições de habitat favoráveis para a nidificação de algumas espécies de aves terrestres e marinhas. Assim, relativamente às primeiras, podem ser observados: o Canário-da-terra (Serinus canaria canaria) e o Corre caminhos (Anthus berthelotii madeirensis). E quanto às segundas, poderemos encontrar: a Gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis Atlantis) a Rolinha da praia (Charadrius alexandrinus), a Cagarra (Calonectris diomedea), o Roque de Castro (Oceanodroma castro), a Alma Negra (Bulweria bulwerii), o Garajau (Sterna hirundo), o Garajau-rosado (Sterna dougalli) e o Pintainho (Puffinus assimilis).

Rolinha da praia (Charadrius alexandrinus)
(Foto do autor)

O meio marinho no Ilhéu de Baixo ou da Cal é semelhante aos restantes meios marinhos circundantes à Ilha do Porto Santo e ilhéus adjacentes. São caracterizados por águas cristalinas com fundos de areia com uma fauna abundante e diversificada. Os fundos de areia são de uma maneira geral mais estéreis do que os fundos rochosos, devido à oscilação provocada pelas correntes. A existência de uma base fixa num fundo de areia, propicia a possibilidade dos organismos que necessitam de estabilidade para se fixarem, como acontece junto ao Navio “Madeirense”, afundado a cerca de 30 metros de profundidade. Neste recife artificial, por exemplo, podem ser observadas espécimes de Mero (Epinephelus marginatus).

Praia do Porto Santo - Ilhéu de Baixo ou da Cal
(Foto do autor)

Actualmente, o Ilhéu de Baixo ou da Cal é uma de “Área Marinha Protegida”, onde inclui a sua parte terrestre, de acordo com Decreto Legislativo Regional n.º 32/2008/M, de 13 de Agosto, que cria a “Rede de Áreas Marinhas Protegidas do Porto Santo” e consagra o seu respectivo regime jurídico. O seu Artigo 2.º, define a delimitação territorial, constituída pela parte terrestre de todos os seus ilhéus e pelas zonas marinhas circundantes do Ilhéu da Cal ou de Baixo e do Ilhéu de Cima, incluindo a zona onde se encontra afundado o navio “O Madeirense”, de acordo com os limites constantes do anexo único desse diploma, do qual faz parte integrante. Assim, a "Rede de Áreas Marinhas Protegidas" do Porto Santo fica definida e delimitada da seguinte forma:

a) Área do Ilhéu de Fora, do Ilhéu das Cenouras, do Ilhéu da Fonte d’Areia e do Ilhéu do Ferro: constituída pelas respectivas áreas terrestres;
b) Área do Ilhéu da Cal ou de Baixo: constituída pela área terrestre do Ilhéu da Cal e pela área marinha limitada a oeste pela batimétrica dos 50 m e pelo azimute verdadeiro 315° a partir da extremidade oeste da Ponta do Focinho do Urso, a sul pela batimétrica dos 50 m, a norte pela linha de preia-mar máxima de marés -vivas equinociais da costa da ilha do Porto Santo e a este pela batimétrica dos 50 m e pelo azimute verdadeiro 135° a partir do enfiamento do Pico de Ana Ferreira;
c) Área do Ilhéu de Cima: constituída pela área terrestre do Ilhéu de Cima e pela área marinha limitada a oeste pelo azimute verdadeiro 160° a partir da extremidade este do Porto de Abrigo, a sul e este pela batimétrica dos 50 m e a norte pela linha de preia-mar máxima de marés-vivas equinociais da costa da ilha do Porto Santo e pelo azimute verdadeiro 90° a partir da Ponta das Ferreiras.

Vista aérea sobre o Ilhéu de Baixo ou da Cal
(Foto do autor)

O Ilhéu de Baixo ou da Cal, faz parte de um «Sítio de Importância Comunitária (PTPOR0001) - Ilhéus do Porto Santo».

Vista aérea sobre o Porto Santo
(Foto do autor)





Bibliografia:



CARVALHO, A. M. Galopim de e BRANDÃO, José M. (1991). Geologia do Arquipélago da Madeira. 1.ª Edição. Museu Nacional de História Natural (Mineralogia e Geologia) da Universidade de Lisboa. Lisboa.
COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
GOMES, Celso de Sousa Figueiredo e SILVA, João Baptista Pereira (1997). Pedra Natural do Arquipélago da Madeira, Importância Social, Cultural e Económica. Madeira Rochas - Divulgações Científicas e Culturais. Câmara de Lobos.
JARDIM, Roberto e FRANCISCO, David (2000). Flora Endémica da Madeira. 1.ª Edição. Múchia Publicações. Funchal.
OLIVEIRA, Paulo (1999). A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Serviço do Parque Natural. Funchal.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
SILVA, João Baptista Pereira (2003). Areia de Praia da Ilha do Porto Santo: Geologia, Génese, Dinâmica e Propriedades Justificativas do seu Interesse Medicinal. Madeira Rochas - Divulgações Científicas e Culturais. Câmara de Lobos.
SILVA, João Baptista Pereira (2007). O Tempo Escrito nas Rochas. Série de Divulgação Científica e Cultural. Editores: RTP - Madeira e Madeira Rochas - Divulgações Científicas e Culturais [DVD Rom Duplo]. Funchal.
SECRETARIA Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais (2004). As Reservas Marinhas da Ilha da Madeira. Serviço do Parque Natural da Madeira. Funchal.

Visualizações de páginas

Powered By Blogger

Visitantes em online

Modified by Blogger Tutorial

Madeira Gentes e Lugares ©Template Nice Blue. Modified by Indian Monsters. Original created by http://ourblogtemplates.com

TOP