Sítios do Trapiche e da Barreira
(Freguesia de Santo António - Funchal - foto do autor)
BARREIRA – Sítio povoado da freguesia Santo António do Funchal, situado a 700 metros de altitude, nos limites desta mesma freguesia, próximo da floresta exótica e das serras que lhe são confinantes.
No passado, os habitantes do sítio da Barreira, sempre estiverem ligados à vida serrana, tanto na pastorícia como na agricultura, assim como todos os povoados com as mesmas características geográficas na Madeira. Presentemente, a pastorícia e agricultura, actividades do sector primário neste sítio, são praticamente inexistentes, consequência do dinamismo evolutivo social e outros meios de subsistência. A floresta limita o casario disperso, em conjunto com as pequenas courelas e hortas. As serras circunvizinhas recuperam o seu coberto vegetal, pois deixaram de ser pastagem, após a retirada do gado dos montados.
Serras da freguesia de Santo António
(Foto do autor)
Duas levadas, a da Serra e a da Negra, regam-lhes os terrenos. A primeira, tem origem no Pico do Cedro e a segunda, tem origem no Pico Escalvado, próximo do Pico do Areeiro. Neste sítio, terminam ou iniciam-se uma série de percursos por levadas e veredas, para o Parque Ecológico do Funchal (Areeiro), para as serras de Santo António (Ribeira da Lapa, Montado do Paredão, Pico do Cedro e Pico Escalvado) e para as Serras de São Roque. O itinerário mais pitoresco, é o da Levada da Negra (ou da Fonte do Terreiro do Freixo e Curral do Martinho) com o destino ao Parque Ecológico do Funchal (Poço da Neve).
Parece que este sítio, deve-lhe o nome à existência de uma barreira (tapume ou trincheira), feito de estacas e ramos de árvores e destinado a impedir que os gados que pastavam livremente nas serras e baldios, descessem ao povoado e terras cultivadas, que os madeirenses denominam de bardo, segundo o Elucidário Madeirense.
Idem, foto anterior
(Foto do autor)
Na freguesia da Ponta do Pargo, existe um sítio não povoado, chamado de “Lombo da Barreira” e na Freguesia da Boaventura, uma das levadas existentes, para a sua irrigação, intitulava-se de “Levada de Lombo do Serrão e Barreira”, segundo o Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Igualmente, a Carta Militar (1974) refere um lugar de nome Barreira (?) no limite sul do Montado do Barreiro, próximo do sítio dos Tornos. Desconhecemos, se estes topónimos terão a haver com o facto de serem locais que no passado tinham um tapume ou trincheira, ou teriam algum obstáculo natural ou de natureza geomorfológica, ou seja, uma “barreira”.
Ao averiguar-mos a acepção do vocábulo barreira, através do Dicionário de Língua Portuguesa, este diz-nos, que o mesmo pode ser uma estacada ou trincheira, para além de outros significados que lhe possam ser atribuídos, tais como: lugar de onde se tira barro; terreno argiloso; terra alta e seca; entrada de povoação onde se pagam impostos fiscais; portagem; obstáculo; dificuldade.
"Bardo"
(Foto do autor)
Analogamente, o vocábulo bardo (substantivo masculino), o mesmo dicionário atesta que significa: borda; fila de videiras ligadas a estacas e arames que formam um suporte vertical; curral onde pernoita o gado miúdo; redil, (de barda). O vocábulo barda (substantivo feminino) traduz um tapume formado por silvas ou ramos de outras plantas; sebe; etc.
Neste contexto, poderemos “asseverar” que, os vocábulos bardo ou barda poderão ser sinónimos (?) do termo barreira. Assim, pela denominação singular, natural e popular, o vocábulo barreira, transformou-se em topónimo. Por outro lado, o vocábulo bardo é igualmente usado como topónimo na Madeira, este, localizado no Porto do Moniz, denominado por Achada do Bardo.
Idem, foto anterior
(À esquerda do "bardo" - zona de apascentação. À direita do "bardo" - zona proibida de apascentação)
(Foto do autor)
Os bardos eram habituais na Madeira e em geral constituíam a linha divisória entre os terrenos de cultivo e os logradouros comuns (baldios) para a pastagem do gado e apanha de lenhas e matos.
Por ser frequentador dos bardos, tanto artificiais como naturais, uma das aves da família falconidae, o Gavião (Accipiter nisus granti), subespécie endémica da Macaronésia, foi popularmente baptizada pelos madeirenses de fura-bardos, dado a ter um comportamento furtivo na sua actividade venatória, acompanhada de voos rasantes, “furando” os bardos.
"Fura-bardos" - Gavião (Accipiter nisus granti)
(Fonte: Paulo Oliveira, 1999, A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira, SRAFP - Serviço do Parque Natural)
Bibliografia:
COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
OLIVEIRA, Paulo (1999). A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Serviço do Parque Natural. Funchal.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1929). Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
OLIVEIRA, Paulo (1999). A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Serviço do Parque Natural. Funchal.
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SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.