25/12/2008

ASSOBIADOURO (Pico do)

Pico do(s) Assobiadouro(s)
(Foto do autor)


ASSOBIADOURO - Segundo o Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira, Assobiadouro é uma «elevação montanhosa no Paul da Serra, junto da qual nascem algumas fontes, que alimentam os caudais das levadas do Rabaçal». Acrescenta o mesmo autor no Elucidário Madeirense, que é aqui que «têm origem as fontes do Rabaçal». Igualmente neste local, nasce Ribeira do Seixal, sendo também uma das origens da Ribeira da Janela, das «mais extensas e caudalosas da ilha». O Pico do Assobiadouro (Carta Militar - Pico dos Assobiadouros) pertence à Freguesia do Seixal, concelho do Porto do Moniz.


Pico do(s) Assobiadouro(s) e Pico Ruivo do Paul
(Foto do autor)


Desconhecemos a origem da denominação toponímica do Pico do Assobiadouro (assobia+douro) ou dos Assobiadouros. Mas, conhecemos a sua localização geográfica no grande planalto da Madeira, denominado de Paul da Serra. Este situa-se a norte do mesmo, a cerca de 1475 metros de altitude, e é condiscípulo próximo do Pico Ruivo do Paul (com 1640m de altitude - Carta Militar), duas das elevações das mais proeminentes daquela pitoresca planura. Estes são obstáculos naturais aos ventos alíseos, predominantes do quadrante norte. Quando os mesmos se fazem acompanhar de fortes tempestades, sopram de tal “forma e feitio” que “assobiam” junto ao Pico do(s) Assobiadouro(s), num silvar imutável e contínuo, que mais parece um assobio. Não sabemos se este “fenómeno atmosférico”, consequência da geomorfologia local, terá substantivado este lugar pelos viandantes ou caminhantes que ali passavam nas suas proximidades ou o frequentavam. Recordamos que ali próximo, passa o caminho, que em tempos remotos ligava o sul ao norte da Madeira, mais propriamente à Freguesia do Seixal, antes das modernas construções rodoviárias, iniciadas nos séculos XIX e XX, nesta ilha atlântica. Neste sentido, seria mais lógico chamar-lhe de "Pico do(s) Assobiador(es)". Assobiadouro(s), será corruptela de assobiador(es)? Ou o local de onde se assobiava! Desconhecemos!


Junto ao Pico do(s) Assobiadouro(s), inicia-se o concelho do Porto do Moniz
(Estrada do Fanal - Foto do autor)


O Paul da Serra, pela sua natureza geomorfológica aliada à altitude, é um território inóspito. As desvantajosas condições climatéricas, relacionadas com sucessivos vendavais, antigamente, muitas pessoas encontraram a morte durante o Inverno, quando surpreendidas pelo frio e pelo granizo ou desorientadas pelo espesso nevoeiro. Estas circunstâncias, levou à construção da casa de abrigo «nos Estanquinhos do Paul, guardada por um homem com família» (Elucidário Madeirense), para agasalhar cuidadosamente os viajantes, obra mandada executar pelo o «Governador Civil do Funchal, José Silvestre Ribeiro, com a coadjuvação das Câmaras Municipais de S. Vicente, Calheta e Ponta do Sol solicitadas por ofício de 6 de Fevereiro de 1852, por serem os seus concelhos os que mais aproveitariam com um abrigo naquela serra, passagem quase obrigatória, ao tempo, para os povos do Norte e do Sul da ilha» (Ilhas de Zargo). Nesta mesma casa, «um sino que tocava em dias de nevoeiro ou de tempestade para guiar os caminhantes perdidos no planalto do Paul, onde todas as povoações dos concelhos circunvizinhos comunicavam com este mesmo planalto por trilhos de pastores e caminhos de mau piso» (Ilhas de Zargo).

Nevoeiro no Planalto do Paul da Serra
(Foto do autor)


O anterior citado Governador, igualmente, mandou «construir duas vedações de pedra solta, dum metro de alto por dois de largo […] dispostas perpendicularmente entre si, ligando a beira do Paul sobranceira à Ponta do Sol, ao Assobiadouro (Seixal) e dos Estanquinhos ao Arco da Calheta» (Ilhas de Zargo). Neste contexto, seria o Pico do(s) Assobiadouro(s) um ponto de referência? O “assobio alíseo” orientaria os viandantes ou caminhantes na direcção do Seixal ou vice-versa? Não sabemos!


Pico do(s) Assobiadouro(s)
(Foto do autor)


O planalto do Paul da Serra, encontra-se situado a cerca de 1400 metros de altitude acima do nível do Mar. Mede no sentido Leste/Oeste, cerca de 5,5Km de comprimento, sendo a sua maior largura de um pouco mais de 3Km. Nele, entroncam-se os concelhos da Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta e São Vicente. As Urzes (Erica scoparia) e as Uveiras (Vaccinium padifolium) são dos poucos arbustos de vegetação de altitude, que acompanham o resto da vegetação constituída na sua maioria pela Feiteira (Pteridum aquilinum), Feno (Agrostis castellana) e o Alecrim da Serra (Thymus caespititius), muito abundante neste local. Existe alguns núcleos de floresta exótica, introduzida nos séculos XIX e XX. Actualmente procedeu-se a uma reflorestação mais abrangente, de forma a captar água dos nevoeiros e estimular a chamada precipitação oculta ou horizontal. O Paul da Serra é a maior zona de infiltração de precipitação e poderá ser considerado o maior reservatório natural de água doce da Madeira. Daqui, se abastece a cidade capital (o Funchal), através do grande "Canal do Norte" e outras origens.

Planalto do Paul da Serra
(Foto do autor)





Bibliografia:

JARDIM, Roberto e FRANCISCO, David (2000). Flora Endémica da Madeira. 1.ª Edição. Múchia Publicações. Funchal.
NEVES, Henrique Costa e VALENTE, Ana Virgínia (1992). Conheça o Parque Natural da Madeira. Secretaria Regional da Economia - Parque Natural da Madeira. Funchal.
PEREIRA, Eduardo C. N. (1989). Ilhas de Zargo. 4.ª Edição. Câmara Municipal do Funchal. Funchal.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.